
Uma amiga descobriu uma fotografia minha com o Paulo, por ocasião do Festival em 1998. O Festival teve três objetivos: reverenciar o filho ilustre da cidade , resgatar a dívida com a comunidade negra, já que o pai de Paulo Moura, por ser negro, tinha que entrar pela porta dos fundos do clube da"elite" e, finalmente, trazer a boa música para Rio Preto.Eu tinha noção da minha responsabilidade. Na época, o Paulo acabara de ser consagrado como o maior clarinetista do mundo e estava entre os cinco maiores saxes. A clarineta é o instrumento de sopro mais difícil de se alcançar uma expertise e o Paulo o fizera muito jovem, tanto é que aos 21 anos era músico da Orquestra do Teatro Municipal do Rio,então Capital Federal.Eu conheci o Paulo Moura na Rua Vilela Tavares, Boca do Mato, Rio, aos 15 anos, na casa do grande flautista Antonio de Sousa. Eu preparava com aulas particulares os filhos da Dona Ledinha, o Reinaldo e a Neide, para o exame de admissão ao Pedro ll .Eu passara para o científico e juntava os trocados para o novo uniforme.Dona Ledinha fora nossa vizinha na Vila Militar. Viúva, casara-se em segundas núpcias com o Antonio de Sousa.A casa de vila era simples,mas acolhedora.Simples também era o Antonio.Um reliquia de poliomielite tornara o seus pés tortos o que o obrigava a andar descalço em casa. Para mim era estranho um homem tão célebre e tão despojado. Paulo Moura ,volta e meia,ensaiava com o Antonio, horas a fio. Fomos apresentados.Um dia o Paulo me perguntou da minha preferência pelas cantoras e, ficou surpreso,quando lhe disse do meu fascínio pela Neusa Maria.Ela era uma cantora notável,mas sem apelo popular,pois não fazia concessões de repertório e nem era divulgada pela mídia.Paulo era também admirador incondicional da Neusa Maria.Os ídolos aproximam os homens.No último jantar que tive com o Paulo, no restaurante do Automóvel Clube,junto com o Sérgio Parada,o Paulo voltaria a me lembrar - que sorte tivemos de ouvir a Neusa Maria.E,com um meio sorriso-e quem era o melhor afoxé?João da Baiana é claro. O festival Paulo Moura teria que ser uma coisa grandiosa,à altura do Paulo. Principalmente, porque a comunidade musical brasileira e internacional se faria presente e,pior que não enaltecer o filho ilustre é não recebê-lo com a pompa que a sua importância o tornou merecedor.Como minha mãe me ensinou - quem convida dá banquete! Banquete não foi dado. Paulo merecia muito mais. Mas lhe oferecemos uma festa com os seus melhores amigos que partiram com a certeza do orgulho que a cidade tem por ter tido um filho tão notável.
Nenhum comentário:
Postar um comentário